Cuidado com óculos inadequados

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Modernos ou clássicos, pequenos ou grandes, de todas e cores e preços. Os óculos estão à venda das lojas aos camelôs e conquistam clientes de todas as idades, principalmente, durante a quente estação do verão. O que muita gente não sabe é que o uso de óculos sem a proteção adequada contra os raios ultravioletas (UV), ao invés de minimizar, potencializa os riscos de doenças. O uso inadequado, ou a falta desse acessório, provoca prejuízos – imediatos e cumulativos – que podem levar, inclusive, à diminuição da visão.

Para evitar as doenças oculares só tem uma saída: se proteger. Mas isso não significa apenas escolher os óculos mais escuros ou mais caros. É preciso usar lentes de qualidade. Isso porque, quando se coloca um par de óculos escuros, devido à diminuição da luminosidade, a pupila dilata, aumentando a absorção de raios ultravioletas. Daí a importância das lentes estarem prontas para “filtrar” esses raios.

“Os bons óculos escuros devem bloquear entre 99-100% as radiações UV-A e UV-B, além de ter lentes capazes de filtrar entre 75-90% da luz visível”, orienta o oftalmologista Alexandre Bezerra. Os testes podem ser feitos gratuitamente em algumas óticas, ou nas clínicas de oftalmologia. O profissional lembra, ainda, que os óculos de grau e as lentes de contato também devem ter proteção UV.

A exposição aguda ao sol, por um curto período de tempo, segundo o oftalmologista, pode causar uma queimadura (ceratite) na superfície ocular, de modo equivalente ao que ocorre na pele. O resultado é ardor nos olhos, lacrimejamento, fotofobia, vermelhidão e sensação de areia nos olhos, sintomas que podem aparecer de seis a dez horas após a exposição ao sol.

Mas nem todos os sintomas aparecem imediatamente. A exposição cumulativa também leva a problemas ainda mais sérios como pterígio (surgimento de tecido carnoso), opacidades do cristalino (catarata), lesões degenerativas na retina (degeneração macular relacionada com a idade) e até câncer de pálpebra.

Os riscos, portanto, estão para todas as idades, de modo que os cuidados devem ser tomados desde a infância. Sabendo disso, a artista plástica Maria das Graças Bezerra se preocupou em adquirir óculos escuros adequados para o filho de apenas 6 anos. “Levei os óculos para o oftalmologista conferir se tinha a proteção assegurada na etiqueta. A dificuldade agora é convencer meu filho de que óculos não são brinquedos e devem ser usados sempre”, afirmou.

Outra orientação é que os óculos escuros não sejam lembrados apenas como acessório típico do verão. Devem ser usados em todas as estações do ano. Isso porque, por mais que varie a intensidade, a radiação ultravioleta está sempre presente, quer seja do tipo UV-A, que chega mais intensamente à superfície terrestre por ter um comprimento de onda maior (320 a 400nm), quer seja dos raios UV-B (286 a 320nm).

Índice de radiação UV é alto
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam que o índice UV na capital potiguar está na faixa considerada “muito alta” (8 a 10), na escala de 0 a 16. Mesmo com o tempo nublado, esse índice aqui é superior a 6, o que é considerado “alto”. O Índice UV é uma medida da intensidade da radiação ultravioleta do sol incidente sobre a superfície da terra. Segundo o chefe do Laboratório de Variáveis do Inpe, o engenheiro mestre em termociência Francisco Raimundo da Silva, essa incidência ainda é “potencializada” por outros fatores.

No caso de Natal, a incidência se torna mais perigosa devido à posição geográfica próxima à linha do Equador, à pouca cobertura de árvores e de nuvens (que “filtram” os raios), além da extensa faixa de mar e areia do litoral, que refletem ainda mais os raios UV. “Por isso, não basta ficar embaixo de uma sombra. Existem os reflexos difusos também. Daí a necessidade de usar protetor solar, óculos, chapéu”, alertou Silva.

O engenheiro apontou ainda, como agravante, o fato de Natal viver cerca de 220 dias de céu claro e “ter praticamente dois verões”. “A incidência é muito alta de dezembro a março e de agosto a dezembro, principalmente no outono”, assegurou. Sobre isso, alertou para a importância da população estar sempre informada sobre esses indicadores, inclusive para escolher melhor horário e tempo de exposição ao sol.

Solmáforo
Segundo Raimundo Silva, o INPE pretende apresentar uma proposta junto ao poder público para implantação de indicadores da radiação solar nas ruas da cidade. “Assim como tem os semáforos, devem ter os ‘solmáforos’. Isso já existe em outros países onde os riscos são muito menores. Esse problema é também dos governos, afinal são muitas doenças causadas pelo sol”. Os índices de radiação solar já podem ser acompanhados em tempo real no site do Inpe. O endereço é: www.inpe.br

Inmetro não fiscaliza os óculos
Os óculos comercializados no Brasil não são fiscalizados pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) porque não existe uma norma brasileira específica para óculos de sol. Com base em normas estrangeiras o Inmetro chegou a realizar um estudo desses produtos, mas apenas no ano de 1997. Segundo o relatório disponível no site do Inmetro, todas as 13 marcas pesquisadas (sendo cinco amostras de cada) “apresentaram não conformidade em pelo menos um ensaio”.

No estudo, foram analisados três aspectos diferentes: Risco de Incêndio (das lentes e da armação), Características Ópticas (se as lentes possuem grau, se permitem a boa distinção das cores, se não se alteram com exposição ao calor) e Detalhes Construtivos (se tem estabilidade, resistência ao impacto). Mas como os consumidores não têm acesso a todos esses testes, a orientação é que verifique, pelo menos, o índice de proteção UV, levando o produto para análise de um oftamolmologista.

Caso o produto não atenda às especificações divulgadas, o cliente pode buscar seus direitos junto aos órgãos de defesa do consumidor. Os órgãos estão capacitados a dar orientação adequada para cada caso.

“O fato de não existir uma norma de regulamentação não exime o fornecedor de cumprir com as características estabelecidas no produto. Está previsto no Código de Defesa do Consumidor e todos devem estar atentos para poder exigir seus direitos e fazer cumprir as leis”, assegurou o coordenador de fiscalização do Procon Estadual, Afonso Marques.

Óculos também são objeto de luxo
Apesar dos óculos de sol serem produto básico de proteção - tão indispensável quanto o filtro solar é para o corpo - esse acessório também é símbolo de charme, moda e desejo, principalmente do universo feminino. Prova disso, é que as grifes mais famosas oferecem produtos de até R$ 4mil: com direito a designer de última tendência e armação banhada a ouro.

“Muitas marcas são associadas aos seus estilistas. É uma questão de desejo. Se a pessoa não pode ter um vestido de R$30 mil daquela marca, compra óculos de R$ 4 mil”, justificou a gerente de uma tradicional ótica de Natal, Josiane Derquin. Apesar de - para muitos – parecer uma realidade distante, a gerente assegurou que grande parte dos clientes está mesmo antenada nas tendências da moda. “As pessoas procuram muito por peças novas, às vezes já dentro de determinadas grifes”, afirmou.

A média de preço de “óculos com o mínimo de qualidade” variou de R$ 99,00 a R$ 250,00. Em algumas lojas especializadas nesse segmento de óculos escuros, é possível encontrar produtos a partir de R$ 80,00, chegando ao preço máximo de R$ 200,00. Já nas grandes magazines, que também comerciam esses produtos, os preços variam de R$ 29,00 às R$ 59,00 – com 100% de proteção UV, segundo consta na etiqueta de especificação do produto

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